Nos últimos 21 anos, o Brasil registrou uma série de ataques violentos a escolas, totalizando pelo menos 30 casos, de acordo com um estudo realizado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Essas tragédias resultaram na perda de 36 vidas, sendo 25 estudantes, quatro professoras, uma coordenadora, uma inspetora e cinco atiradores que cometeram suicídio. O estudo, que abrange o período de janeiro de 2002 a maio de 2023, não inclui o caso mais recente, ocorrido nesta segunda-feira (19), em Cambé, no norte do Paraná.
As pesquisadoras Telma Vinha e Cleo Garcia, responsáveis pelo estudo, revelam que os ataques a escolas no Brasil são motivados principalmente pelo ódio e pela vingança. Esses crimes são frequentemente planejados e não acontecem por acaso. Ressentimentos, racismo, misoginia, extremismo e aversão a uma pessoa ou grupo são fatores que podem desencadear essas tragédias. A cultura de ódio disseminada pelas redes sociais tem um papel significativo na alimentação dessas motivações, com públicos que idolatram os autores desses atos e glorificam os atentados.
Segundo a pesquisa, a ocorrência de ataques violentos em escolas tem consequências devastadoras para toda a comunidade. Alunos, professores e moradores do município são impactados emocionalmente, enfrentando traumas significativos. Esses eventos também estão associados a um aumento expressivo de transtornos mentais, além do consumo abusivo de álcool e drogas. Há ainda o risco de abandono escolar e afastamento do trabalho, afetando a vida dos envolvidos e da sociedade como um todo.
Cleo Garcia, advogada, mestranda da Unicamp e uma das organizadoras do estudo, destaca que a solução para interromper a sequência de ataques não está na repressão, mas sim em uma mudança de cultura que deve começar nas escolas. É fundamental implementar programas de convivência que promovam a inclusão, o diálogo e o sentimento de pertencimento. Abordar assuntos relacionados à convivência com o diferente e combater a disseminação do ódio e da violência são ações essenciais para prevenir futuros episódios trágicos.
Além disso, a educação infantil desempenha um papel fundamental na prevenção de casos de violência. Educar as crianças desde cedo, ensinando valores de respeito, empatia e resolução pacífica de conflitos, pode ser uma estratégia eficaz para evitar que elas se tornem vítimas ou perpetradoras de atos violentos no futuro.
O caso recente em Cambé, no norte do Paraná, reforça a urgência dessa mudança cultural e da inclusão da educação infantil nesse processo. Um ex-aluno entrou atirando no Colégio Estadual Helena Kolody, resultando na morte de uma estudante. Esse episódio demonstra mais uma vez a necessidade de enfrentar o problema de forma abrangente e efetiva, buscando soluções que evitem a repetição dessas tragédias.
Diante dessa realidade preocupante, é imprescindível que a sociedade como um todo se una em um esforço conjunto para combater a cultura do ódio e da violência. Investimentos em educação, programas de prevenção, apoio psicológico e conscientização, aliados à valorização da educação infantil, são fundamentais para garantir que nossas escolas sejam ambientes seguros, acolhedores e propícios ao desenvolvimento pleno dos estudantes e professores. Somente através de uma mudança cultural profunda e duradoura poderemos construir um futuro livre de tragédias nas escolas do Brasil.
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