A jornada de uma criança diagnosticada com câncer é repleta de desafios que afetam não apenas a saúde física, mas também a esfera emocional e social. Nesse contexto delicado, a relação entre crianças em tratamento de câncer e a escola desempenha um papel crucial na promoção de uma experiência positiva e enriquecedora. A empatia e o acolhimento se tornam aliados fundamentais nesse processo, proporcionando um ambiente propício para o desenvolvimento integral das crianças e a manutenção de sua conexão com a normalidade.
A luta contra o câncer é uma batalha que requer um suporte abrangente, que vai além do aspecto médico. A Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (SOBOPE) destaca a importância de uma abordagem humanizada, em que a empatia e o acolhimento são elementos fundamentais. A presença do profissional da psicologia desde o início do tratamento é essencial para entender as necessidades emocionais das crianças e suas famílias, auxiliando na compreensão e no enfrentamento da doença e dos desafios terapêuticos.
O retorno à escola é um passo significativo na jornada de recuperação e normalização da vida da criança. No entanto, a psicóloga hospitalar Arli Diniz Pedrosa, coordenadora do Comitê Multidisciplinar da SOBOPE, enfatiza a importância de avaliar o momento propício para esse retorno. A decisão deve ser tomada em conjunto com o médico responsável pelo tratamento, levando em consideração a condição clínica e hematológica da criança. A escola desempenha um papel vital na vida da criança, e prepará-la para receber o aluno é crucial para garantir uma reintegração bem-sucedida.
“Estimulamos a volta à escola formal. No caso de creche, é uma decisão da família, É necessário que esta creche receba o treinamento adequado para o cuidado com a criança e manuseio da rotina de medicações”, ressalta.
A escola não é apenas um local de aprendizado, mas também uma comunidade que oferece apoio social e emocional. Professores e colegas desempenham um papel significativo na vida da criança em tratamento de câncer.
“Na minha prática, sempre que uma criança é diagnosticada e inicia o tratamento, o retorno à escola é um questionamento presente na fala dos pais. Sabemos o quanto é importante para a criança o convívio com os seus pares e o convívio com a primeira e maior comunidade da vida deles, em especial dos menores”, relata Arli Pedrosa.
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A especialista reforça a importância de orientar os professores e a comunidade escolar sobre a chegada de uma criança com câncer. Enviar informações sobre a doença, os tipos de câncer mais comuns em pediatria e orientações específicas cria um ambiente de compreensão e apoio.
“Reforçamos com a coordenação a importância da escola na vida da criança e o convivo com os amigos, do envio dos assuntos que estão sendo trabalhados em sala (quando do período de internamento), o abono das faltas e aulas de reforço”, explica Pedrosa.
A psicóloga continua:
“Enviamos junto à carta um material educativo para os professores e equipe para ser trabalhado com os alunos em sala de aula. São dois livros com informações sobre o processo da doença e o tratamento: [A criança com câncer e a escola – manual do professor] e [Quando seu colega de escola tem câncer – manual para o aluno]. Nos disponibilizamos a visitar a escola e estabelecer rodada de conversa com os professores”, complementa.
O diagnóstico de câncer é um desafio emocional significativo para pais e cuidadores. A culpa, a impotência e o medo são sentimentos comuns nessa jornada.
Segundo Arli: “Eles se sentem culpados e impotentes diante do diagnóstico e necessidade de tratamento, mudança do estilo de vida, necessidade de múltiplos internamentos, além de lidar com os efeitos colaterais e o medo da possibilidade de não cura”.
Por isso, a presença de um profissional de psicologia ajuda a lidar com essas emoções, orientando a família e a criança para atitudes positivas e estratégias de enfrentamento saudáveis. O diálogo aberto, a escuta atenta e a verdade são fundamentais para promover a compreensão e a aceitação.
“É preciso sempre reafirmar que o câncer pediátrico é uma doença com índice elevado de cura […]”, ressalta a especialista da SOBOPE.
A educação infantil desempenha um papel essencial no desenvolvimento integral da criança. Para aquelas que enfrentam o desafio do câncer, a inclusão escolar é uma parte vital desse processo.
De acordo com Pedrosa, “a criança pode e deve frequentar a escola desde que tenha condições físicas e hematológicas. A liberação é feita pelo médico responsável pelo tratamento e leva em conta a importância do convívio escolar”.
Portanto, preparar a escola para receber um aluno em tratamento de Câncer requer diálogo, orientações claras e sensibilidade por parte dos educadores. Rodadas de conversas com professores e gestores podem ajudar a criar um ambiente que acolhe, apoia e promove a continuidade da aprendizagem.
A jornada de uma criança em tratamento de câncer é complexa, mas a escola pode ser um refúgio de esperança, aprendizado e normalidade. A empatia, o acolhimento e a compreensão da comunidade escolar são elementos essenciais para tornar essa jornada mais suave. A educação infantil não apenas auxilia na continuidade do desenvolvimento, mas também desenha um caminho de superação, apoio e inclusão para as crianças que enfrentam o desafio do câncer.
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