Nos últimos dias, o Brasil se viu novamente abalado por um triste episódio de violência em uma escola. A Escola Estadual Sapopemba, localizada na zona leste de São Paulo (SP), foi o cenário do nono ataque a uma instituição de ensino no país desde janeiro. Esse número alarmante torna 2023 o ano com mais registros de violência escolar na história do Brasil, de acordo com um relatório do renomado Instituto Sou da Paz. Só nos primeiros seis meses deste ano, já foram contabilizados sete episódios.
A violência nas escolas é uma preocupação crescente, e esse novo caso só acentua a necessidade urgente de compreender o que está por trás desse cenário sombrio. Nesta reportagem, investigaremos as origens e o contexto desse problema, ouvindo a Bancada da Educação, a delegada Raquel Gallinati e a psicóloga Priscilla Vasconcellos.
A Bancada da Educação, comprometida com a segurança e o bem-estar da comunidade escolar, repudia a tragédia na Escola Estadual Sapopemba. Essa bancada tem desempenhado um papel crucial na luta contra a violência nas escolas, demonstrando um compromisso sólido com a segurança da comunidade escolar.
Uma prova desse compromisso é a aprovação do Projeto de Lei n° 1372, de 2022, que autoriza o Poder Executivo a implantar um serviço de monitoramento de ocorrências de violência escolar. Após a sanção, essa iniciativa tornou-se a Lei nº 14.643, promulgada em agosto de 2023. Além disso, a Bancada acompanha a implementação da Lei 13.935/19, que regula a prestação de serviços de psicologia e serviço social nas redes públicas de educação básica.
Um passo importante nessa direção é o PL 3383/2021, que institui a Política Nacional de Atenção Psicossocial nas Comunidades Escolares. Esse projeto já foi aprovado pela Câmara dos Deputados e aguarda apreciação pelo Senado Federal. Essa iniciativa reforça a importância de abordar as questões de saúde mental e apoio psicossocial nas escolas, visando criar ambientes mais seguros e saudáveis para os estudantes.
A delegada Raquel Gallinati, diretora da Associação dos Delegados de Polícia do Brasil e especialista na área, aponta para a necessidade de uma ação conjunta para combater a epidemia de violência nas escolas. Segundo ela, a responsabilização do agressor não é suficiente; é essencial agir de forma preventiva para evitar tragédias como a que ocorreu em Sapopemba.
Gallinati ressalta a importância da colaboração entre a inteligência policial e a direção das escolas, enfatizando que o monitoramento e a identificação precoce de potenciais ameaças são fundamentais.
“É inaceitável que tenhamos que reagir somente após a tragédia ter ocorrido”, diz.
Além disso, a participação ativa da comunidade escolar, incluindo pais, professores, alunos e funcionários, é vital para a prevenção de conflitos e a promoção de um ambiente seguro e saudável.
A delegada também ressalta que a solução não pode depender apenas das escolas e da polícia. O governo desempenha um papel decisivo na implementação de políticas públicas eficazes que previnam ataques como esse. Ataques em escolas são sintomas alarmantes de uma sociedade que enfrenta um vácuo na segurança escolar e na prevenção de tragédias.
“Políticas públicas de prevenção, apoio psicológico, leis mais rigorosas e uma abordagem mais profunda da educação são componentes cruciais que devem ser incorporados ao nosso tecido social para evitar que futuras gerações de alunos e professores se tornem alvos desse tipo de violência”, comenta a delegada.
“A segurança nas escolas não é um luxo, mas um direito inegociável para alunos, professores e funcionários. É hora de o país reconhecer que a violência nas escolas reflete um problema mais amplo que requer correções urgentes”, completa.
Diante das crescentes preocupações com a saúde mental das crianças, é essencial considerar a importância de cuidar da saúde mental desde a primeira infância. Dados do relatório Situação Mundial da Infância 2021 revelaram estatísticas alarmantes para o Brasil, indicando que quase um em cada seis meninos e meninas entre 10 e 19 anos enfrenta algum tipo de transtorno mental, aumentando consideravelmente os riscos de automutilação, depressão e pensamentos suicidas.
A psicóloga Priscilla Vasconcellos, da Rede Hospital Casa, enfatiza a necessidade urgente de prestar atenção aos sinais de alerta e de oferecer o suporte necessário para garantir um desenvolvimento saudável das crianças. Vasconcellos destaca a importância do diálogo e do acolhimento, permitindo que as crianças expressem seus sentimentos e preocupações. Ela também ressalta que os pais, educadores e a comunidade desempenham um papel crucial na promoção de um ambiente que promova a saúde mental das crianças.
“Atualmente, felizmente, tanto depressão quanto bullying têm sido vistos de uma maneira diferente pela sociedade, de uma forma mais acolhedora. Isso facilita a compreensão por parte da família, gerando uma procura por ajuda profissional, ainda no início dos sinais e sintomas, proporcionando a possibilidade de melhor enfrentamento dessas questões, já que a saúde mental influencia diretamente nas emoções e consequentemente nas ações das crianças”, destaca.
Reconhecer os sinais de alerta, como mudanças repentinas de comportamento, é crucial para intervir precocemente e garantir a saúde mental das crianças. A depressão e o bullying são desafios críticos que as crianças enfrentam atualmente.
“Às vezes, aquela birra, malcriação ou agressividade, quando de forma intensa e constante, pode indicar um quadro depressivo. Por vezes, as crianças não expressam esse quadro com humor deprimido, mas sim com agitação e irritabilidade. Podem ser observados como sinais de alerta: alterações no sono e apetite, falta de concentração (inclusive afetando o rendimento escolar), sentimento de culpa, baixa estima, agressividade, humor instável e isolamento social”, explica Priscilla Vasconcellos.
A especialista também ressalta que meninos e meninas têm formas distintas de lidar com seus problemas.
“Segundo estudos, em geral, a incidência de questões de saúde mental é maior em meninas. E isso diz respeito a elas se sentirem mais tristes, acreditar que ninguém se preocupa com elas, sentir que a vida não vale a pena ser vivida, em relação também a ditadura do corpo ideal, que hoje em dia é bastante acentuado pelas mídias sociais. Além de terem uma tendência a querer lidar com essas situações sozinhas, não compartilhando o que é vivido e sentindo”, comenta a psicóloga.
Ela destaca a importância de elogiar os feitos das crianças, estimulando que eles olhem para o que têm de melhor. A resiliência pode ser ensinada e estimulada, não é necessariamente inata. Estratégias de aproximação e acolhimento, juntamente com o retorno gradual às atividades sociais, são essenciais para garantir o bem-estar das crianças.
“Apostar em brincadeiras e leituras que estimulem o senso de pertencimento, elogiar os esforços das crianças, construindo assim a autoestima, ensinar a empatia, trazer exemplos com personagens reais ou fictícios que superam dificuldades, com o intuito de mostrar que ele não está sozinho e que pode acontecer com qualquer um”, finaliza a especialista.
A violência nas escolas é uma questão séria que exige uma abordagem multifacetada. Envolve não apenas as ações das escolas e da polícia, mas também políticas públicas eficazes que promovam a prevenção e o apoio psicossocial. A saúde mental das crianças é uma prioridade, e o investimento nessa área é essencial para construir um ambiente seguro e saudável nas escolas.
O trágico incidente na Escola Estadual Sapopemba é um lembrete doloroso de que a segurança nas escolas não pode mais ser negligenciada. A vida de nossos jovens e o futuro de nossa sociedade dependem disso. É um chamado à ação que não podemos mais ignorar.
*Esta reportagem investigativa aborda um dos temas mais urgentes da sociedade atual: a violência nas escolas. Por meio de entrevistas com especialistas e líderes na área da educação e da segurança, buscamos compreender as causas por trás desse cenário e como podemos trabalhar juntos para criar ambientes escolares mais seguros e saudáveis para nossas crianças. Agradecemos à Bancada da Educação, à delegada Raquel Gallinati e à psicóloga Priscilla Vasconcellos por compartilharem suas valiosas perspectivas com o portal Primeira Educação.
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