Quinta, 05 de Dezembro de 2024
Geral Lei Maria da Penha

Violência doméstica na infância: Marcas profundas e a urgência da denúncia

Explorando as consequências psicológicas na primeira infância e a necessidade de intervenção familiar

30/11/2023 às 19h18 Atualizada em 08/12/2023 às 09h06
Por: Lorena Brum
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A violência doméstica na infância deixa marcas profundas, e a denúncia emerge como uma ação fundamental para garantir que as crianças tenham a oportunidade de crescer em ambientes seguros e saudáveis. Imagem: Freepik
A violência doméstica na infância deixa marcas profundas, e a denúncia emerge como uma ação fundamental para garantir que as crianças tenham a oportunidade de crescer em ambientes seguros e saudáveis. Imagem: Freepik

 

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A violência doméstica é um tema alarmante que, infelizmente, atinge diversas camadas da sociedade. Quando essa realidade cruza o caminho das crianças, especialmente na primeira infância, as marcas psicológicas podem ser profundas e duradouras. Recentemente, o caso da apresentadora Ana Hickmann trouxe à tona a urgência de discutir esse tema sob a perspectiva infantil, revelando como as agressões verbais e físicas presenciadas por seu filho destacam a necessidade de conscientização e denúncia.

Definição Legal de Violência Doméstica e suas Implicações no Contexto Infantil

A Lei Maria da Penha (Lei n.º 11.340/2006) é um marco legislativo crucial para combater a violência doméstica e familiar contra a mulher, abrangendo diversas formas de agressão. Segundo a lei, consideram-se violência doméstica e familiar contra a mulher a violência física, sexual, psicológica, patrimonial e moral. No entanto, quando essa violência ocorre no contexto familiar, o impacto sobre as crianças que presenciam ou sofrem esses abusos ao lado de suas mães é ainda mais acentuado.

A presença dessas crianças em ambientes marcados pela violência intensifica as consequências psicológicas, potencializando o trauma e a insegurança. Crimes como estupro, incluindo o estupro de vulnerável, que é considerado um delito autônomo, a importunação sexual e o feminicídio, todos previstos no Código Penal, tornam-se espécies claras de violência não apenas contra a mulher, mas também contra as crianças que testemunham tais atos dentro de seus lares. A exposição a essas situações não apenas viola os direitos fundamentais das mulheres, mas também compromete o ambiente familiar, afetando negativamente o desenvolvimento emocional e psicológico das crianças envolvidas. Portanto, a compreensão abrangente do que constitui violência doméstica é essencial para promover a proteção integral das vítimas, especialmente quando se trata do público vulnerável que é a infância.

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As Emoções na Primeira Infância

Segundo Patricia Peixoto, Psicóloga e Neuropsicóloga, a primeira infância, até os 6 anos, é uma fase crucial para o desenvolvimento emocional e fisiológico da criança.

"A criança é muito sensível, e o que acontece nesse período moldará sua vida", destaca.

A exposição a agressões, sejam físicas ou psicológicas, altera significativamente o circuito cerebral da criança, gerando medo e insegurança.

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Patricia enfatiza que: "todo tipo de agressão sofrida durante esse período, tanto física quanto psicológica, muda muito o circuito cerebral da criança porque ela vivenciará emoções que trazem situações muito fortes."

Em situações onde deveria ser protegida, a criança se depara com informações de forma intensa, causando danos profundos.

"Vamos pensar em uma criança que sofreu uma agressão ou que viu discussões dos pais. Isso fortalece nela questões voltadas para o medo e a insegurança porque os pais a protegem. Quanto ela vê isso e se sente desprotegida. Se ela vê a mãe sendo agredida, ela acha que precisa proteger a mãe e que precisa amadurecer precocemente", ressalta a Neuropsicóloga.

São circuitos cerebrais que, uma vez alterados, exigem esforços consideráveis na terapia para reconstruir as bases emocionais da criança.

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A Importância da Intervenção Familiar

Dra. Cristiane Pertusi, Psicóloga, Coach e Psicoterapeuta, ressalta que a violência doméstica gera traumas, não apenas para os adultos, mas também para as crianças.

"Isso precisa ser encaminhado para trabalhos de terapia de família para redefinir esse comportamento", destaca.

A intervenção familiar é crucial para quebrar o ciclo de violência que, muitas vezes, é transmitido de geração em geração. "Os pais são exemplos e modelos para os filhos", afirma a Psicoterapeuta.

O comportamento agressivo, quando não abordado, tende a se repetir nas relações sociais da criança ao longo da vida.

"A violência doméstica tem um ciclo. Ela geralmente vem de padrões transgeracionais, ou seja, aprendido em gerações anteriores. Os pais desses casais já foram violentos e tinham comportamentos agressivos que se perpetuam no casal atual", exemplifica Dra. Cristiane.

Para interromper esse ciclo, as intervenções devem ocorrer o quanto antes.

"Se a família percebe que a criança está sendo exposta a algum tipo de perigo, não necessariamente físico, mas psicológico, a família deve intervir afastando-a do agressor e conversando sobre tudo que ela viu, do que aconteceu", destaca.

A terapia é uma ferramenta valiosa nesse processo, permitindo que a criança reprocesse as informações e reconstrua uma visão mais saudável das relações familiares.

"A família precisa identificar que a criança, por mais madura que pareça ser, ela não entende. Ela precisa ser acolhida e ouvida. Precisamos falar com ela de acordo com a idade, não achando que ela já é madura suficiente para entender tudo", completa Dra. Cristiane.

A família, nesse contexto, deve ser uma base protetora, assumindo o papel de cuidadora e protetora contra as adversidades da violência doméstica.

violência doméstica - Imagem Freepik
A exposição a agressões, sejam físicas ou psicológicas, altera significativamente o circuito cerebral da criança, gerando medo e insegurança. Imagem: Freepik

Denúncia: A Chave para uma Infância Saudável

O caso de Ana Hickmann destaca a importância de denunciar casos de violência doméstica. Se a família percebe que a criança está exposta a perigos, seja físico ou psicológico, a intervenção é crucial. A retirada da criança do ambiente agressivo e o diálogo transparente sobre o ocorrido são passos fundamentais. Além disso, a terapia se apresenta como uma ferramenta valiosa para ajudar a criança a processar as experiências traumáticas.

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Como Romper o Ciclo da Violência e Proteger o Futuro dos Filhos?

A violência doméstica na infância deixa marcas profundas, e a denúncia emerge como uma ação fundamental para garantir que as crianças tenham a oportunidade de crescer em ambientes seguros e saudáveis. A conscientização sobre as consequências psicológicas na primeira infância e a necessidade de intervenção familiar são passos cruciais para romper o ciclo de violência e proporcionar um futuro mais promissor às gerações vindouras. É imperativo reconhecer que a definição legal de violência doméstica, conforme estabelecida pela Lei Maria da Penha, vai além do dano direto à mulher, incluindo também o impacto profundo nas crianças envolvidas. A exposição a diversos tipos de violência, seja física, sexual, psicológica, patrimonial ou moral, exige uma resposta enérgica.

Diante disso, a denúncia se torna uma ferramenta crucial para interromper esse ciclo prejudicial. A Lei Maria da Penha representa um instrumento legal valioso, e é fundamental destacar a importância de denunciar qualquer forma de violência doméstica. Para auxiliar nesse processo, a Central de Atendimento à Mulher, pelo número 180, oferece suporte especializado e orientações, sendo um canal vital para aquelas que buscam proteção e para quem testemunha situações de abuso. Denunciar é não apenas um ato de coragem, mas uma medida essencial para resguardar a integridade física e emocional das vítimas e garantir um futuro mais seguro e saudável para as crianças envolvidas.

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