Bateu um desespero, sim! Sou mãe solo e mulher negra. Aos 7 anos de idade, meu filho Xavier foi diagnosticado com TEA. A versão atual foi criada e enquadrada assim, a Síndrome de Asperger e o Autismo no mesmo diagnóstico. Dessa forma, o que antes se conhecia como duas desordens separadas passou a pertencer à mesma condição, que abrange um grande espectro de sintomas.
Pelo fato de ser uma criança negra, sempre procurei potencializar meu filho, mesmo tendo em mente que crianças diagnosticadas com Asperger veem, ouvem e sentem o mundo de forma diferente das outras crianças.
Desde que foi laudado com o CID: F84.5, nossa dependência ao SUS foi total. Até hoje, minha família não tem plano de saúde. Acredito que minha trajetória aqui tem um saldo positivo. Meu filho Xavier completou 18 anos de idade em junho do ano passado, concluiu o ensino médio, está cursando um curso de TI e se orgulha muito de suas características naturais e origens ancestrais.
Não quero passar aqui aos leitores uma sensação de passeio na Disney ou conto de fadas. Minha luta ainda é diária e constante. Com a maior idade, o foco agora é outro.
Não posso esquecer de reafirmar ao meu filho que vivemos em um país onde o genocídio e o encarceramento de jovens negros são altíssimos.
Segundo o IPEA (Altas da Violência 2021), a cada 10 vítimas de homicídio no Brasil, 8 são de jovens negros. Mas essa triste pauta étnico-racial fica para próxima.
Meu filho sempre foi um menino muito quieto e observador. Comecei a criar estratégias para agregar em nossa rotina diária, ferramentas familiares inclusivas e ações afirmativas para trilhar esse caminho.
Antes do banho, pesquisei em revistas fotos de crianças não negras, com texturas de cabelos diferentes do meu cabelo crespo e do dele. Vários tons de pele. Diversidade de características naturais (boca, nariz, etc.). Colava as imagens na parede do banheiro. Fazia Xavier sentir a textura do seu cabelo crespo, lavava seu cabelo sempre elogiando que o cabelo é bonito, macio. Apresentando as diferenças das crianças nas fotos. Passava a bucha em sua pele e repetia o processo. Elogiando sempre, cada qual com sua beleza, todas únicas e lindas. Se tornou um momento de autocuidado, da valorização de nossas diferenças individuais.
Minha militância infantil nascia ali, da necessidade de interagir com o meu filho.
Não era um simples banho, se transformou em uma ato político exalando mais profundo amor, ajudando o meu filho a se tornar uma pessoa capaz de respeitar e ser respeitado, segurar a mão do outro, seja quem esse outro for. Não ser estereotipado, conhecer o seu corpo à sua maneira. Aprender que corpos negros necessitam de cuidado e que precisam ser amados, valorizados. Não tenho um manual ou receituário, são apenas relatos de uma mãe em construção, que deseja ardentemente um planeta igualitário e tranquilo.
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