Segunda, 20 de Janeiro de 2025
Cultura COLUNA

"O balé clássico ainda é uma arte elitista". Como alimentar o sonho de uma criança negra no cenário do balé clássico?

Leia na coluna de Aniete Abreu: Um olhar afrofuturista na busca pela representatividade infantil no Balé Clássico para inspirar futuras bailarinas negras

07/02/2024 às 08h00 Atualizada em 02/05/2024 às 09h40
Por: Aniete Abreu
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Bailarinas de Ruanda. Imagem: This is Africa
Bailarinas de Ruanda. Imagem: This is Africa

 

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Uma amiga entrou em contato comigo um tempo atrás e me fez essa pergunta:

"Minha filha quer ser bailarina clássica. Fiz a matrícula em uma escola de dança. Você acredita, Aniete, que ela é a única menina negra inscrita nessa modalidade? Como posso ajudá-la na ausência de representatividade?"

Tenho uma opinião bem formada sobre essa questão étnico-racial no Brasil. Infelizmente, o racismo se camufla por meio de outras denominações, mas é bem nítida a ausência de bailarinas negras nos altos postos de dança das companhias. O racismo é estrutural e criou raízes nas entranhas da sociedade.

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Um exemplo que já presenciei, inclusive na cidade onde resido: A professora de ballet é sorridente para todas as alunas, mas jamais dá oportunidade de um papel principal para uma aluna negra, escolhendo uma aluna não negra, mesmo que ambas estejam em iguais condições artísticas.

Mas, como eu poderia ajudar e orientar uma amiga na construção da autoestima de uma menina negra com 10 anos de idade? Sempre enxerguei a educação, a literatura e o conhecimento como fortes aliadas nessa luta racial.

Crianças de 10 anos de idade nessa era tecnológica em que vivemos são totalmente diferentes de crianças de 10 anos de outras décadas. Sugiro que ela use o celular como ferramenta inclusiva e didática nos momentos em família. O celular, para a maioria das famílias, tornou-se um membro da família, o parente tecnológico, presente em nosso dia a dia, em refeições, no sofá da sala. Sendo assim, que seja inserido de forma inteligente.

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Sugiro uma viagem afrofuturista no tempo, com um simples toque na tela do celular. Para que assim, não só a filha da minha amiga e muitas outras crianças negras conheçam a história de algumas bailarinas negras importantes no mundo. É muito importante conhecer, valorizar, expor e apresentar essas mulheres negras que construíram o caminho do balé clássico no mundo. Isso é a prática da representatividade. Só assim criamos a ideia de projeção nos espaços e replicamos a narrativa do: "Sim, eu posso - e sempre vou me lembrar disso."

Da esquerda para a direita: Janet Collins, Raven Wilkison, Lauren Anderson, Aesha Ash. Todas bailarinas negras americanas de grandes companhias. Imagem: Divulgação

Apresentando possibilidades e voando juntos

No Brasil, também podemos citar grandes nomes como:

Mercedes Baptista, foi a primeira bailarina negra brasileira a integrar o corpo de baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, 1948.

Mercedes Baptista. Imagem: Divulgação

Consuelo Rios, uma das melhores professoras de balé clássico que o país já teve.

Consuelo Rios. Imagem: Divulgação

E na atualidade do balé contemporâneo, não podemos deixar de falar de Ingrid Silva, bailarina clássica brasileira que faz sucesso no cenário americano, protagonizando a cena do balé e sendo referência para muitas meninas negras, de origem humilde e encantadas com essa arte, que ainda exclui muitas das nossas crianças, por inúmeras problemáticas, como o acesso a uma boa educação de qualidade, proporcionando arte, cultura, lazer, literatura, empoderamento infantil, boa alimentação, uma rede de apoio familiar e psicológica, um distanciamento social e histórico que se arrasta por muitos séculos.

Ingrid Silva, bailarina clássica brasileira. Imagem: Divulgação

As pessoas só precisam de oportunidades igualitárias para aflorar o seu melhor.

Querido amigo leitor, não quero ser rotulada como uma colunista com uma pauta única, mas a luta étnico-racial ferve em minhas veias. Passa um filme na minha cabeça como tive que ser resiliente e resistente para chegar até aqui. Antes de ser escritora, sou humana e mãe, e sigo na luta para que nossas crianças negras não percam o brilho no olhar e mantenham viva uma esperança onde possamos estar, ocupar e ser pertencente em todos os espaços. Essa responsabilidade da conscientização racial é compromisso dos pais e toda uma sociedade.

Como diz o meu grande amigo, inspiração de vida e poeta afro-literário Carlos de Assumpção, em seus 96 anos de idade:

"O racismo é ruim para todo mundo, não só para o negro, para o branco também."

Toda a educação que não passa pelo coração não atinge ninguém!
Que sejamos todos antirracistas.
ALFORRIA.

“Texto escrito por Aniete Abreu - Educação Antirracista"

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Coluna de Aniete Abreu
Sobre Aniete Abreu, educadora e autora paulistana de 49 anos, reside em Tietê há 16 anos. Com formação no Magistério, destaca-se na Educação Básica, especialmente na Educação Infantil. Contadora de histórias, artesã e escritora do livro "Abayomi: A Menina de Trança", Aniete é mãe de Xavier, um adolescente negro com Síndrome de Asperger. Agora, como colunista do Portal Primeira Educação, traz sua paixão e experiência para abordar temas cruciais da educação antirracista. Siga no Instagram: @abre.u690
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