Esses dias revirei meu baú de memórias e resgatei a história da Lohayne, que quero partilhar carinhosamente com vocês, meus queridos e queridas leitoras. Esse fato ocorreu no ano de 2002, em uma escola da periferia de São Paulo. Naquele ano, assumi uma turma de alunos na segunda série inicial de alfabetização, hoje chamada de segundo ano do Ciclo um de Alfabetização. Naquela turma, recebi uma criança que veio para mim como um presente, pois ela trouxe a oportunidade de aprender e ampliar meus conhecimentos, especialmente na linha das Terapias Holísticas (naturalistas), às quais recorri para auxiliar essa criança em seu sofrimento quando a família me pediu ajuda.
No primeiro dia de aula, a mãe veio junto com a criança e pediu para falar comigo a respeito de algumas preocupações referentes à saúde de sua filha, que muito a preocupava. Ela relatou que a garota sofria de problemas cardíacos e, quando tinha crise, ficava "roxinha" por alguns minutos. Afirmou que era necessário vigilância permanente e que, se ocorresse algum desses sintomas, seria necessário levá-la para um lugar mais arejado para ajudá-la a respirar e, se a crise demorasse a passar, seria necessário chamar a família. Lembrando que, naquela época, quase ninguém tinha acesso a celulares, e eram poucos aqueles que, em uma vila pobre, tinham condições de ter telefone fixo em seus lares, o que dificultava muito a comunicação e o socorro em tempo adequado.
Perante a situação relatada pela mãe, percebi a gravidade e entendi que suas preocupações eram legítimas. Naquela época, eu já era praticante das Terapias Naturalistas. Abracei a questão e afirmei para ela que faria o meu melhor para ajudar sua filha em todas as áreas que estivessem ao meu alcance. Naquele momento, coloquei-me no lugar de mãe, que saía para trabalhar todos os dias em período integral, tendo que se ausentar de sua criança, mesmo com a saúde tão fragilizada. Foi assim que abracei a causa com o compromisso de ter um olhar especial e holístico para aquela pequenina aluna que, apesar da fragilidade, me transmitia muita docilidade.
Ainda junto com a mãe, abaixei-me diante dela, segurei suas mãos e a recebi com um abraço acolhedor, a fim de oferecer segurança e tranquilidade, pois tanto a mãe quanto a criança estavam passando por situações muito difíceis e precisavam do meu apoio para seguir em frente. Quando a mãe chegou, demonstrava visível aflição, medo e insegurança por não saber o que ainda estava por vir, mas, com meu acolhimento, percebi um certo alívio em seu semblante. Assim, nos despedimos dela, que me pareceu sair mais tranquila rumo às suas atividades diárias.
Segurei a aluna pela mão para que ela percebesse que estaríamos juntas e que eu iria lhe oferecer a proteção e os cuidados necessários para que seus dias na escola fossem tranquilos, significativos e capazes de facilitar sua aprendizagem com serenidade. Carinhosamente, nos dirigimos à nossa sala de aula, onde cada um procurou o seu lugar. Solicitei que ela se sentasse na primeira carteira, em frente à minha mesa, para que eu pudesse ficar atenta e facilitar a observação e monitoramento de possíveis alterações em seu semblante relacionadas a alguma crise.
Quando entramos na sala, todos estavam em clima de euforia, mas aos poucos começaram a se organizar. A turma se acomodou e, dentro de poucos minutos, demos início ao nosso primeiro dia de aula. Solicitei que fizéssemos um círculo e iniciei com a “terapia” do abraço, quando cada um fala seu nome e abraça a pessoa ao seu lado direito, que será aquela que vai se apresentar, encerrando com todos se abraçando livremente com o objetivo de proporcionar um acolhimento caloroso e relaxante para evitar as possíveis tensões do primeiro dia de aula. Nesse mesmo dia, informei a equipe gestora sobre o caso e alertei sobre os possíveis perigos em caso de crise.
Nos dias que se seguiram, procurei realizar o trabalho como de costume. Cada aluno recebeu um crachá em branco para que escrevessem seus nomes, podendo recorrer aos nomes que estavam escritos em seus objetos pessoais. Enquanto realizavam a atividade solicitada, organizei os cantinhos com brinquedos e jogos pedagógicos, onde iriam brincar. Logo após, faríamos o registro dos nomes em forma de lista para facilitar a compreensão da escrita.
Durante esse movimento, observei que ela quase não interagiu com o grupo, mesmo com minha motivação para que todos a auxiliassem. Ela preferiu permanecer sentada em seu lugar de segurança, mas aos poucos foi aceitando que uma coleguinha a ajudasse com a escrita de seu nome utilizando letras móveis, pois ainda não reconhecia seguramente o alfabeto. Comentei com a turma que ela fazia tratamento, tomava alguns remédios e precisaria da ajuda de todos.
Algumas semanas depois, percebi que ela estava com os lábios muito pálidos. Imediatamente fui até ela, a retirei da cadeira e, segurando-a firmemente ao meu lado, falei calmamente para a turma que iria acompanhá-la ao banheiro. Quando coloquei os pés fora da sala, senti que ela desfaleceu. Coloquei-a no colo e saí correndo em direção à secretaria da escola, que era razoavelmente próxima.
Quando a coordenadora me viu correndo com ela em meus braços, veio ao meu encontro e viu que a aluna estava totalmente desfalecida. Afirmou que iria pegar o endereço dela para avisar a família, e eu acrescentei: "corra direto para o hospital mais próximo, ela está desfalecida". Quando o motorista (inspetor escolar) manobrou o carro, ela perdeu o controle dos esfíncteres e correram direto para o hospital mais próximo.
Chegando ao hospital, entraram direto para o atendimento emergencial. Ela foi reanimada e colocada no oxigênio até que reagiu. Os médicos afirmaram que, se chegasse cinco minutos depois, ela teria falecido. Quero salientar que a criança foi muito bem atendida. Ela ficou internada e foi submetida a inúmeros exames, especialmente do coração, mas não foi detectada nenhuma alteração que justificasse seu estado. Submeteram-na a uma tomografia computadorizada e perceberam uma alteração no cérebro, mas não identificaram a verdadeira causa, então medicaram a criança como se fosse uma infecção.
A família foi comunicada e dirigiu-se ao hospital, pedindo a remoção da criança para um hospital onde a mãe tinha convênio, oferecido pela empresa. O hospital explicou que a situação exigia cuidados e que, para liberar, seria necessária uma ambulância com aparelhos e acompanhamento médico. Tudo foi providenciado para garantir a segurança da criança e, dois dias depois, ela foi removida para ser acompanhada por médicos especializados.
No novo hospital, fizeram novos exames e compararam com os anteriores. Concluíram que a medicação para infecção estava acelerando o crescimento da imagem detectada (que parecia um micro copinho com algo parecido ao ossinho da Pedrita dentro). Trocaram a medicação e continuaram acompanhando. O dono da empresa, um famoso médico, assumiu o caso junto com uma médica que acompanhava os funcionários. Eles descobriram que era o segundo caso no Brasil e o terceiro do mundo, o que dificultava o tratamento da menina.
A mãe foi afastada do trabalho para acompanhar a filha em casa e, quando precisava fazer novos exames, uma ambulância vinha pegar a criança e a mãe em sua residência. Após muita pesquisa, a situação continuava evoluindo negativamente. Concluíram que seria necessário fazer uma cirurgia para remover e analisar diretamente o conteúdo. Quando pediram permissão à mãe, ela perguntou sobre a garantia de vida para sua filha, e eles responderam que não poderiam garantir.
A mãe pediu um tempo para pensar, pois não suportava a ideia de perder a criança. Resolveu procurar ajuda em nosso trabalho comunitário com remédios naturais. Procurei uma freira amiga que nos auxiliava com o tratamento da bioenergia (energia da vida com o Oring Test ou Bio Digital), caracterizado como uma forma de cinesiologia aplicada, um procedimento patenteado e aplicado para diagnóstico de medicina. Juntas, fizemos os testes na garota.
Detectamos um tipo de verme alojado em sua cabeça, crescendo assustadoramente. Após a análise, entendemos que os vermes gostam de se alojar em regiões quentes. Para expulsá-lo ou matá-lo, foi indicada a aplicação de touca de argila verde e fresca, fria, manipulada no local à noite por 21 dias, e também na barriga. Assim fizemos, providenciamos a argila fresca e aplicamos conforme a indicação dos testes.
Ao encerrarmos as aplicações, a mãe retornou ao médico e solicitou novos exames como condição para autorizar a cirurgia. Eles relutaram, mas acabaram aceitando. Fizeram os exames e não encontraram mais a imagem que se mexia e crescia, restando apenas a cicatriz. A mãe retirou os exames no laboratório e, no mesmo dia, tinha consulta marcada para ver os últimos exames antes da cirurgia. Ela levou-os ao consultório da médica que, ao ver os resultados, se emocionou fortemente. Ligou para um colega que também dava assistência ao caso, afirmando, chorando: "temos um milagre, os exames mostram que a menina está limpa, não há mais nada, apenas a cicatriz".
A mãe esperou a conversa terminar e disse à médica: "sim, é um milagre do tratamento feito com as Terapias Naturais (hoje chamada de medicina complementar)". Mostrou para ela um livro do terapeuta Jaime Bruning com todas as instruções do tratamento, pois ele foi o professor dessa minha amiga freira, e na época eu era aluna dela. A médica ficou sem palavras por alguns segundos e logo depois pediu à mãe para me avisar que gostaria de falar comigo e com a minha professora terapeuta. Quando dei o recado, minha professora se recusou e me pediu para não aceitar, para evitar aborrecimentos.
Voltamos às nossas casas e a vida retornou ao normal. A aluna retomou seus estudos, pois havia sido afastada pelos médicos para evitar maior desgaste. Ela ficou com defasagem porque perdeu a maior parte do ano, mas conseguiu concluir o ensino médio. Casou-se, teve filhos e não teve mais nenhum sintoma que sugerisse algo semelhante à doença. Essa foi mais uma história feliz em que tive a alegria de auxiliar na recuperação.
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Texto escrito por: Prof. Maria Lita da Silva Cardozo - Psicopedagoga e Psicoterapeuta