Neste artigo, quero compartilhar uma prática realizada este ano com a intenção de reforçar a importância da poesia aplicada em sala de aula, onde o estudante aprende brincando de rimar, cantando rimas e rimando brincando. Nesse contexto de brincadeira, todos aprendem com alegria, o que facilita e acelera o processo de ensino e aprendizagem. Estou omitindo o perfil do primeiro bimestre porque não foi nada bonito, apenas farei uma simples síntese.
No início do ano letivo de 2024, grande parte dos estudantes apresentava muita defasagem de aprendizagem e baixo aproveitamento dos conteúdos trabalhados. A maioria estava em nível de conhecimento equivalente ao de um aluno do 3º ano, e alguns em nível alfabético; poucos eram alfabetizados. Compreendo que essa situação ocorreu porque, no 1º e no 2º ano, tivemos o prejuízo da pandemia da Covid-19. Muitos deles tiveram apenas o terceiro e o quarto ano para serem alfabetizados e não avançaram na aprendizagem o suficiente para acompanhar os conteúdos do quinto ano.
O mais grave é que desenvolveram um comportamento de brincadeiras violentas que acabavam em agressões, brigas e conflitos de diversos níveis, atrapalhando severamente o desenvolvimento das atividades pedagógicas. Portanto, diante das diversas necessidades apresentadas, foi necessário adequar os conteúdos às reais necessidades de cada educando. Aqueles que apresentavam melhor desempenho escreviam textos em nível de 3º ano, comparáveis a frases.
Diante dos conflitos, foi necessário adotar uma metodologia de trabalho envolvendo: autovalorização, autoestima, autoconhecimento, autorrespeito e respeito ao próximo. Iniciei meu trabalho com uma proposta humanitária, dialogando permanentemente e envolvendo a família em várias dinâmicas sobre seus valores e potencialidades que cada indivíduo traz ao nascer, propondo vários acordos que vêm sendo renovados inúmeras vezes ao dia.
Organizei as duplas produtivas e fiz várias trocas sempre que percebi a necessidade. Pratiquei exercícios de Yoga e Meditação, trabalhando a visualização criativa (mostrando documentários que comprovam a eficácia dessas atividades) com foco em suas potencialidades. Orientei-os sobre o sonho dos grandes cientistas: Thomas Edison, Albert Einstein, Isaac Newton, Santos Dumont e outros, que foram os maiores mestres nessas atividades imaginárias, mostrando-lhes que só fizeram seus inventos porque acreditaram neles e investiram em seus conhecimentos e em suas relações sociais.
Assistimos a filmes sobre pessoas pobres que, através dos estudos, se tornaram importantes, alguns até ficaram famosos. Assim, fui investindo na melhoria das relações, me apoiando no Direito de Aprender e oferecendo atividades condizentes com suas realidades, dando-lhes autonomia de ação em todas as atividades, me apoiando na metodologia de Paulo Freire, Emília Ferreiro e no meu Método Brincando de Aprender a Aprender Brincando. Sempre com leveza e muitas trocas de experiências de acordo com minhas pesquisas. Hoje, já estou com 70% dos estudantes produzindo textos condizentes com o ano/ciclo, com coerência, e sabem fazer interpretação com facilidade.
O perfil foi realizado junto ao grupo, reforçando os combinados para melhorar o comportamento, a atenção e a concentração nas atividades propostas. Neste bimestre, trabalhei com composição de cordel, construído junto à leitura e releitura, observando a concordância, rimas, jogo de palavras, escolha das palavras que melhor se encaixam, melodia, métrica e outros. Contudo, percebi que isso despertou o interesse de todos e que houve um ótimo aproveitamento, elevando o grau de aprendizagem em média de 70% dos alunos. Utilizei meu livro, que está na bibliografia do meu Planejamento (cordel como um poderoso recurso pedagógico), o que corresponde aos conteúdos, recursos e metodologia elencados no planejamento. Utilizarei essas informações para elaborar o plano de ação, que, por sua vez, embasará o próximo bimestre.
Virgulino é nordestino e ninguém pode negar
Se você não o conhece, quero lhe apresentar
Ele era um bom menino que nasceu nesse lugar
Era um garoto pobre, sem pai, sem mãe, sem irmão
Criado por sua avó depois que seu pai morreu.
Que ele nasceu no Nordeste, isso você já conhece
Ser criado pela avó muito o favorece
Ela ensinou coisas boas, inclusive algumas preces
Pedindo a Deus proteção e cuidados pro menino
Pra crescer com segurança e seguir o seu destino
O que a pobre vozinha desejava pro seu neto.
Um futuro mais tranquilo, sendo um rapaz esperto
Cuidando da própria vida, andando em caminho certo
Pra viver com segurança sem se perder no deserto
Depois que ele cresceu, foi que sua avó morreu
Segundo histórias contadas, muita coisa aconteceu
Com a família assassinada, um grande trauma lhe deu.
Depois da morte do pai, sua avó o acolheu
Cuidou com muito carinho até que ele cresceu
Quando ficou rapazinho, começou a namorar
Com uma moça bonita e queria se casar
Pois a amava muito e gostava de sonhar
Construindo uma família e os seus filhos criar
Era uma moça linda quando ele a conheceu
Mas o sonho acabou quando um bandido chegou
Encantou sua noiva e em seguida a levou
O desespero foi grande quando seu amor partiu
Ele não se conformou e atrás dela seguiu.
Mas o bandido malvado cheio de raiva ficou
E com muita violência o seu bucho lhe rasgou
Deu-lhe uma grande facada que pensou que o matou
Com a barriga rasgada, lá no chão ele ficou
Desmaiado e quase morto quando um amigo chegou
O levou ao hospital onde o médico lhe tratou.
Virgulino foi pra vida quando se recuperou
Procurando o que fazer, se tornou um caçador
O amigo que o salvou o seguiu como parceiro
Começaram a caçar juntos, só que o tempo não durou
Aquele seu companheiro se tornou um traidor
Roubou seu boi mais bonito, isso muito o irritou.
Depois que foi traído, se sentiu muito zangado
E brigou com o falso amigo, viu que o cara era safado
A briga foi violenta, rolou por todos os lados
O colega foi mais fraco e terminou assassinado
Depois que matou um homem, um assassino se tornou
Ele era um rapaz do bem, mas sua vida mudou.
Se tornou um foragido, agora um fora da lei
Precisou fugir dali pra polícia não o prender
Foi se esconder pelas matas pra poder sobreviver
Com fome e não tinha nada, mas precisava comer
Ele descia da mata à procura das fazendas
Para arrumar comida porque já não tinha renda.
Na vida de fugitivo, uma mulher conheceu
Era Maria Bonita, moradora do lugar
Se encantou com o cangaceiro e quis lhe acompanhar
Passou a viver fugindo e aprendeu a atirar
Era um amor verdadeiro, mas não tinham onde morar
Dormiam no meio do mato e lá não podia chorar.
Quando eu conto isso a alguém, gosto sempre de lembrar
Que a vida de Virgulino nunca pode melhorar
O sofrimento foi grande e não pretendo relatar
Porque para o fugitivo muitos escritos já há.
Mas falar do homem bom, pouca notícia isso dá
Quase ninguém quer tentar falar bem de Virgulino
Esquecendo que esse homem um dia já foi menino.
PARA LER MAIS ARTIGOS COMO ESTE, ACESSE: Coluna de Maria Lita Cardozo.
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