Terça, 17 de Setembro de 2024
Política Ausência parental

O que é abandono afetivo e quais suas implicações jurídicas no Brasil? Entenda

Saiba mais sobre abandono afetivo, quais as consequências legais e emocionais e o papel dos pais no desenvolvimento infantil saudável

06/08/2024 às 13h12 Atualizada em 08/08/2024 às 14h45
Por: Lorena Brum
Compartilhe:
Entenda o abandono afetivo e suas implicações jurídicas no Brasil: Projeto de Lei 3012/23 e mudanças no Código Civil. Imagem: Freepik
Entenda o abandono afetivo e suas implicações jurídicas no Brasil: Projeto de Lei 3012/23 e mudanças no Código Civil. Imagem: Freepik

 

Continua após a publicidade

O Dia dos Pais, celebrado em 11 de agosto em 2024, é uma data que costuma ser marcada por homenagens, presentes e demonstrações de afeto. No entanto, para muitos, a data pode trazer à tona sentimentos de ausência e desprezo, especialmente para aqueles que enfrentam a dura realidade do abandono afetivo.

Uma pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas revelou que, em 2022, no Brasil, 11 milhões de mulheres declararam criar seus filhos sozinhas. Esse dado reflete uma parcela significativa da população que enfrenta as consequências do abandono afetivo, um problema tanto emocional quanto legal.

O que é o abandono afetivo?

O abandono afetivo refere-se à falta de cuidado, atenção e apoio emocional de um pai ou mãe para com os seus filhos. Este conceito, reconhecido juridicamente, pode resultar em indenizações por danos morais quando comprovado que a negligência parental causou traumas ou prejuízos psíquicos ao filho.

Continua após a publicidade

Situações de abandono afetivo

  • Ausência física prolongada: O pai ou a mãe se ausenta fisicamente da vida do filho, não participando de seu desenvolvimento e cotidiano.
  • Negligência emocional: Mesmo presente fisicamente, o pai ou a mãe não oferece o suporte emocional necessário, demonstrando indiferença ou negligência quanto às necessidades afetivas da criança.
  • Falta de participação na educação e cuidados: Omissão em participar das responsabilidades diárias, como educação, saúde e bem-estar do filho.
  • Descumprimento de deveres parentais: Inobservância dos deveres previstos no poder familiar, como o cuidado, sustento e proteção.
  • LEIA TAMBÉM: Dia dos avós: benefícios emocionais e sociais para crianças e idosos

Consequências jurídicas do abandono afetivo

A advogada Vanessa Paiva, especialista em Direito de Família e Sucessões, sócia do escritório Paiva & André Sociedade de Advogados, explica que uma das principais repercussões do abandono afetivo é a indenização por dano moral.

O pai pode ser condenado a pagar uma indenização financeira ao filho, desde que o dano seja comprovado. A comprovação se dá por meio de laudos médicos e psicológicos que demonstrem o dano psicológico ou psiquiátrico. Esse valor visa compensar o sofrimento causado pela falta de afeto e cuidado”, afirma Paiva.

Provas necessárias para a ação de indenização

Para ingressar com a ação de indenização por dano moral por abandono afetivo, é necessário reunir provas.

Continua após a publicidade

Todas as evidências que comprovem o abandono afetivo, como relatos de testemunhas, registros de laudos psicológicos e psiquiátricos, cartas, e-mails, mensagens, e qualquer documento que mostre a falta de cuidado e afeto é essencial”, ressalta a advogada.

Evolução da jurisprudência

Segundo Paiva, a justiça brasileira tem evoluído significativamente em relação ao reconhecimento e à punição do abandono afetivo.

A jurisprudência e a legislação brasileira têm evoluído significativamente em relação ao reconhecimento e à punição do abandono afetivo. Atualmente, os tribunais têm concedido valores expressivos a título de indenização por abandono afetivo”, enfatiza.

Em março do ano passado, a 6ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) reconheceu o abandono afetivo e concedeu o direito do filho de receber uma indenização de R$ 30.000,00 pelos danos morais sofridos.

A presença afetiva dos pais é fundamental para o desenvolvimento saudável das crianças. O abandono afetivo pode perpetuar-se ao longo de gerações, com crianças negligenciadas emocionalmente repetindo esse padrão quando se tornam pais. Romper esse ciclo é essencial para a construção de famílias mais saudáveis”, finaliza Paiva.

Projeto de Lei propõe mudanças no Código Civil

O Projeto de Lei 3012/23, da deputada Juliana Cardoso (PT-SP), propõe tornar o abandono afetivo de filhos um ato ilícito, passível de indenização por danos morais. A proposta inclui alterações no Código Civil e no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) para prevenir e compensar o abandono afetivo, destacando a necessidade de comprovação dos danos emocionais sofridos.

Medidas preventivas

De acordo com o projeto, o Poder Público promoveria campanhas de conscientização e prevenção do abandono material e afetivo, com ênfase na responsabilidade compartilhada e na participação ativa de ambos os pais na criação dos filhos. Em maio, a Comissão de Previdência, Assistência Social, Infância, Adolescência e Família aprovou o projeto, que agora aguarda a análise da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC).

Importância do debate

O debate sobre o abandono afetivo é crucial para a conscientização e mudança de comportamentos. O reconhecimento legal do problema e a possibilidade de indenização por danos morais são passos importantes para garantir que os direitos das crianças sejam respeitados e protegidos. No Dia dos Pais, é essencial refletir não apenas sobre as celebrações, mas também sobre as responsabilidades e o impacto profundo que a presença (ou ausência) dos pais tem na vida dos filhos.

Deixe seu comentário e continue navegando pelo portal Primeira Educação para se manter atualizado com as principais informações relacionadas à educação infantil e primeira infância.

Gostou da notícia? Seja um apoiador do jornalismo independente e contribua.

* O conteúdo de cada comentário é de responsabilidade de quem realizá-lo. Nos reservamos ao direito de reprovar ou eliminar comentários em desacordo com o propósito do site ou que contenham palavras ofensivas.
Ele1 - Criar site de notícias