Quarta, 19 de Março de 2025
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Dia da Consciência Negra: Por que ainda querem nos calar?

Uma reflexão da colunista Aniete Abreu sobre resistência, escrevivências e o poder transformador das vozes negras na sociedade brasileira

20/11/2024 às 09h00 Atualizada em 20/11/2024 às 11h01
Por: Aniete Abreu Fonte: Aniete Abreu
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Escrava Anastácia. Imagem: Divulgação/ Internet
Escrava Anastácia. Imagem: Divulgação/ Internet

 

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A tentativa de silenciar as mulheres negras na sociedade brasileira é uma questão complexa e multifacetada, com raízes profundas no racismo e no sexismo estruturais que persistem até hoje. Essas tentativas estão associadas a medos e inseguranças que permeiam a sociedade.

Nós, mulheres negras brasileiras, enfrentamos uma tripla discriminação: pela cor de nossa pele, pelo nosso fenótipo e pelo gênero. Essa interseccionalidade frequentemente resulta em marginalização e invisibilidade.

Mulheres negras que se expressam e se posicionam desafiando o status quo representam uma ameaça ao poder historicamente estabelecido, dominado por homens e mulheres brancos. Há um temor de que a igualdade e a justiça desestabilizem as estruturas tradicionais de poder.

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Queridos leitores, minha voz ecoa como um grito por redistribuição de recursos, oportunidades e respeito.

A sociedade brasileira teme as implicações dessas mudanças, preocupada com a perda de privilégios e comodidades sustentadas por séculos de desigualdade. Nossa voz e nossas escrevivências (expressão cunhada por Conceição Evaristo) também simbolizam o reconhecimento das injustiças históricas cometidas contra Anastácia, Aniete e muitas outras mulheres negras. Esse reconhecimento demanda responsabilidade e ações reparadoras, o que a sociedade muitas vezes reluta em admitir.

CULPA E VERGONHA!

Esses sentimentos, profundamente enraizados, levam à tentativa de silenciar aquelas que trazem à tona essas questões. Nos calar, porém, não evitará a necessidade de ressignificação. Valorizar a voz das mulheres negras redefine padrões de beleza, desafia normas estabelecidas e abre espaço para múltiplas formas de existir e prosperar.

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A Escrava Anastácia: símbolo de luta e resistência

Anastácia foi uma mulher negra escravizada, uma figura emblemática na história e na cultura afro-brasileira. Sua imagem e a história da máscara que lhe foi imposta tornaram-se símbolos potentes de resiliência e da luta contra a opressão e a desumanização dos negros no Brasil.

Quem foi Anastácia?

Anastácia é descrita como uma mulher africana de beleza rara e grande dignidade, forçada a viver como escravizada no Brasil colonial. Sua história faz parte da tradição oral, já que há poucas evidências documentadas (resultado do apagamento e do cancelamento histórico). Ainda assim, seu impacto cultural é inegável. A figura de Anastácia representa a resiliência, a fé e a força das mulheres negras diante dos horrores da escravidão.

A Máscara de Ferro

Devido à sua beleza e influência, Anastácia foi punida pelos seus senhores com uma máscara de ferro, um instrumento cruel e monstruoso que impedia sua fala e causava dor extrema. Esse dispositivo de tortura simbolizava a tentativa de silenciar e desumanizar.

A importância do Dia 20 de Novembro

O Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, é uma data de grande relevância na luta contra o racismo e na valorização da cultura afro-brasileira. Foi escolhido em homenagem a Zumbi dos Palmares, um dos maiores líderes da resistência negra à escravidão no Brasil. Zumbi é símbolo de liberdade e direitos, lembrando-nos da importância de continuar essa luta.

Esse dia é uma oportunidade para dar visibilidade às vozes das mulheres negras, reconhecendo suas contribuições e os desafios enfrentados. É também um momento para celebrar nossas histórias, talentos e resiliência.

A celebração e reflexão nessa data fortalecem nosso empoderamento. Por meio de ações afirmativas, somos impulsionadas por nossos ancestrais a ocupar espaços de liderança e a lutar por nossos direitos. A data promove o diálogo sobre racismo e sexismo, educando a sociedade sobre a importância de combater todas as formas de discriminação. É um momento para refletir sobre as desigualdades e buscar soluções para superá-las, reforçando a relevância dos movimentos sociais liderados por mulheres negras, que lutam diariamente por direitos, união e solidariedade. Essa é uma luta contínua para enfrentar as opressões e construir uma sociedade mais justa.

Celebrar o Dia da Consciência Negra é também um ato coletivo, um convite à sociedade para reconhecer e valorizar a luta das mulheres negras. Promovendo o diálogo, a educação e a solidariedade, avançamos na construção de uma sociedade mais igualitária e inclusiva, onde todas as vozes ecoem e sejam respeitadas.

Neste Dia da Consciência Negra, ao lembrarmos de figuras históricas como a Escrava Anastácia, reforçamos nosso compromisso com a justiça social, a igualdade e o reconhecimento da rica herança cultural afro-brasileira.

Anastácia simboliza a luta contra a desumanização e a opressão. Sua imagem nos lembra da necessidade contínua de combater o racismo e todas as formas de discriminação. Sua história nos convida a refletir sobre as atrocidades do passado e a reconhecer a resiliência das comunidades negras, que continuam enfrentando desafios sistêmicos.

A tentativa de silenciar as mulheres negras ao longo da história e nos dias atuais expõe medos profundamente enraizados de mudanças que ameaçam estruturas de poder, identidades e privilégios. Enfrentar esses medos e permitir que nossas vozes sejam ouvidas é essencial para construir uma sociedade mais justa e equitativa.

O Dia da Consciência Negra é um momento para reafirmar o compromisso com a igualdade e a inclusão. Ao amplificar as vozes das mulheres negras, celebramos a diversidade, enriquecemos a nação com contribuições e perspectivas valiosas, e plantamos sementes de sonhos e esperança para as gerações futuras.

ALFORRIA!

LEIA MAIS SOBRE EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA NA INFÂNCIA NA COLUNA DE ANIETE ABREU.

Texto escrito por Aniete Abreu - Educadora, Escritora, Contadora de Histórias e Artesã.

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Sobre Aniete Abreu, educadora e autora paulistana de 49 anos, reside em Tietê há 16 anos. Com formação no Magistério, destaca-se na Educação Básica, especialmente na Educação Infantil. Contadora de histórias, artesã e escritora do livro "Abayomi: A Menina de Trança", Aniete é mãe de Xavier, um adolescente negro com Síndrome de Asperger. Agora, como colunista do Portal Primeira Educação, traz sua paixão e experiência para abordar temas cruciais da educação antirracista. Siga no Instagram: @abre.u690
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